Um casal com três filhos ainda crianças saiu da cidade de Humaitá, no
interior do Amazonas, em busca de uma vida melhor no Acre. Sem ter onde
morar, a família está instalada há 15 dias dentro de um automóvel, na
BR 364. Sem expectativa de futuro digno para a família, Belcina Pereira
Lopes, 28, e Lorivaldo Silva, 50, largaram o pouco que tinham no
Amazonas para reconstruir a vida em outro Estado.
O
casal trouxe dentro de um Del Rey apenas os filhos, uma pequena
quantidade de roupa, o cachorro e um sonho. O veículo, que já foi o
sonho de consumo nos anos 1970, está estacionado no pátio do Auto Posto
Correntão, às margens da BR-364, sentido Porto Velho.
O local
agora é o lar da família. Durante o dia, Belcina e os filhos se acomodam
na sombra de uma árvore enquanto Lorivaldo faz uns ‘bicos’ de serviço
mecânico nos caminhões que chegam e deixam o Acre.
Durante a
noite, no momento de se recolher, a situação complica. Os filhos se
acomodam no interior do veículo por cima das bagagens, e o casal dorme
do lado de fora na companhia do animal de estimação, adotado há seis
anos. Mesmo com essa dificuldade, o casal se diz sortudo pelo fato de
ainda não ter tido uma chuva.
“Desde quando estamos aqui ainda
não caiu uma chuva. Isso é sorte para nós. Quando chover vamos nos
esconder no carro ou no posto de gasolina. Mas, por enquanto, Deus tem
sido bom com a gente”, diz Lourivaldo.
Ao lado da ‘moradia’
tudo também é marcado pelo improviso. O banheiro é de papelão e usado
apenas para as necessidades básicas dos filhos. Uma torneira puxa a água
de um restaurante ao lado da garagem para o banho das crianças e para
preparar as refeições. Já o casal quando precisa utilizar o banheiro
paga entre R$ 0,50 a R$ 2, pelo banheiro do posto de combustível.
FORA DA ESCOLA
Afastados
da escola, as crianças de 1, 4 e 7 anos passam o dia andando pela
garagem sendo tomados pela poeira dos caminhões. O momento de trabalho é
ajudar a mãe a fazer comida -isso quando tem.
“Tenho vontade
de estudar e brincar com os colegas”, disse a menina de quatro anos, que
também ajuda a cuidar do irmão mais novo. Segundo Belcina, dois filhos
recebem o Bolsa Família que, somados, chegam a R$ 134. Ela pretende
cadastrar o terceiro filho no programa e conseguir um emprego.
O
recurso destinado pelo governo às famílias de baixa renda tem por
objetivo manter as crianças nas escolas e com as consultas médicas em
dia. Como os filhos de Belcina estão fora da sala de aula ela pode
perder o benefício.
DOAÇÕES
A família tem
recebido algumas doações de alimentos durante esses dias instalada às
margens da rodovia. Lorivaldo também conseguiu um emprego provisório em
uma oficina ao lado de “casa”, além dos “bicos”.
O maior sonho
de Belcina e Lorivaldo, casados há oito anos, é conseguir uma casa de
verdade no Acre para terem uma vida normal, mas sabem que não possuem
renda suficiente para isso.
“A esperança é a única que morre.
Acreditamos em nosso sonho e vamos construir nossa vida aqui [no Acre]”,
ressaltou Belcina, comentando da dificuldade de conseguir um emprego no
interior amazonense.
Fonte: Agazeta.net